domingo, 23 de setembro de 2012

Um belo dia você acorda e se dá conta que está cansado.
Você se cansa da cidade, dos carros, das luzes. Você se cansa do lixo, das pessoas, do barulho. Se cansa de não saber para onde ir, se cansa de não ter para onde ir e precisar ir para algum lugar.
Você se cansa de não ter razão, de não ter caminhos, de não ter opções, se cansa de ver sua vida igual a de todos os outros, se cansa de ser de um rebanho sem pastor.
Você se cansa de chefes, deuses, impostos, moda, dinheiro. Você se cansa da sensação de estar desperdiçando seu tempo, você se cansa de não ter tempo algum para disperdiçar.
Você se cansa de viver em um mundo onde quem não está desesperado, está louco. Você se desespera com medo de enlouquecer. Respira fundo, acende um cigarro.
Você se cansa de não saber exatamente do que está cansado. Se cansa do "alguma coisa está errada" que paira sobre o ar desde uma época que você não se lembra.
Se cansa das avenidas, das ruas, das alamedas, das praças, do sol, dos postes, das placas de sinalização, das buzinas.
Você se cansa de amores incompletos, de amores platônicos, de falta de amor, de excesso disso e daquilo. Se cansa do "apesar de". Se cansa do rabo entre as pernas, da sensação de estar sendo prejudicado, se cansa do "a vida é assim mesmo". Você se cansa de esperar, de rezar, de aguardar, de ter esperanças, cansa do frio na barriga, cansa da falta de sono.
Você se cansa da hipocrisia, da falsidade, da ameaça constante, se cansa da estupidez, da apatia, da angústia, da insatisfação, da injustiça, do frenezi, da busca impossível e infinita de algo que não sabe o que é. Se cansa da sensação de não poder parar.
No final das contas você se cansa de você mesmo, e de todos outros, e tudo que você quer é uma nova vida. Conhecer pessoas completamente diferentes com manias diferentes e características diferentes. E que dessa vez seja tudo mais fácil e rápido. 
Mas, no final das contas, você se cansa até disso, se cansa de almejar sonhos impossíveis. Você se cansa de tudo, mas o amanhã não se sabe, e é nesse amanhã que você consegue encontrar forças pra continuar e mudar. Mas não tudo, contudo. De repente você se cansa de se sentir cansado e vai à luta. E vai tentar mudar algo. E você vai conseguir. Claro que, depois de você dar uma última tragada é claro.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Me diga
Porque não posso voltar no tempo
Porque não posso reviver aquelas tardes ensolaradas
Porque sou obrigado a viver pro futuro
Porque não posso viver do passado
Porque tenho que conhecer novas pessoas
Porque não posso reconhecer as antigas pessoas
Porque tenho que fingir que não sinto
Porque sou assim
Que não ficarei sozinho
Apenas se podemos viajar no tempo um dia

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Herói

Uma hora ou outra nós meio que caímos na real. Nós começamos a enxergar o mundo como ele realmente é. E no mundo que vivemos hoje em dia, se você dormir no ponto meu amigo, já era.

Sempre achei que nós precisamos de algo pra lutar, ou acreditar. 
O ser humano é assim, nós como seres humanos não estamos acostumados a questionar tudo o tempo todo, logo, não estamos acostumados a pensar.
Fomos acostumados a acreditar num mundo feito de justiça. Seja humana ou divina. 
Um mundo onde todos nossos atos enquanto vivos terão suas consequências e que podemos ser gratificados ou punidos de acordo com os nossos atos.

Mas o mundo não é bem assim, não é?
Você não está dando a mínima quando a velha passa pedindo uma esmola ou se você encontra uma criança na rua chorando pedindo a mãe, você só quer chegar ao Ponto B, fazer o que tem que ser feito e retornar ao Ponto A.
Você se pergunta: eu agi certo? eu sou uma boa pessoa?
Daí você resolve dar dinheiro pra velha e ajudar o menino a encontrar seus pais. Você é uma boa pessoa ou não? Será que somos moralmente julgados a ter atitudes condizentes com o solidarismo? 
Talvez sim. 
Mas você pode não ajudar ninguém, ou ajudar quem você quiser ajudar, não há algo de tão errado nisso.

Imagine agora como nós somos carentes em relação ao heroísmo. O mundo precisa de heróis.
Heróis constituem outro pilar básico da sociedade. Em que ao sinal de qualquer calamidade, seja o super-homem ou o Batman, ou deus ainda, nos salve de qualquer tipo de desastre ou tragédia. 
Você luta contra os vilões, você os vence, você é um herói.

Mas o mundo não é assim.
O mundo não é justo e nunca foi. Deus nunca nos salvou de nada pra falar a verdade.
Se você tinha que morrer acabou morrendo, o mesmo se continuou vivo. 
E se todos descobrissem que além de nosso sistema ser completamente falho, não existe porcaria de justiça divina alguma?

Somos criados com um propósito filosófico que nos acalma, em que tudo dará certo, em que cada um terá o que merece e que nossas ações tem consequências.
Porque tudo seria mais fácil assim, porque você teria um certo tipo de certeza que se você continuar sendo uma boa pessoa, será recompensado.
Mas você não esperava caminhar na rua com os fones de ouvido ao máximo, muito menos ser atropelado. Pobrezinho, foi uma pessoa exemplar e acabou morrendo. Bem-vindo ao acaso jovem terráqueo.

No final das contas, você tenta ser uma pessoa melhor, ou um herói, com base nos seus próprios interesses. Heróis de verdade você tem que deixá-los nas páginas de seus quadrinhos favoritos. 
O que você considera em o que é ser um herói, está relacionado com a sua experiência de vida do que você acha que significa ser um.
Nós não voamos, não temos visão de raio-X ou teias como do homem-aranha.
No mundo tem morte, destruição, extinção e sangue pra tudo quanto é lado.
Heróis de verdade não tem vez.

Agora pense em você como um vilão.
Pense um pouco mais.
E se no final das contas, fôssemos exatamente tudo aquilo que negamos ser? E se formos filhos da puta? Traidores, oportunistas, interesseiros, invejosos, raivosos, depravados, infelizes, preconceituosos.
Se não fôssemos filhos de deus? Ninguém olhando por nós. Olho por olho e dente por dente. E se os hipócritas não forem realmente hipócritas?

A gente sempre erra. Podemos errar a respeito disso. A respeito de nós mesmos. Imagine você, um maldito confesso. Sem remorso. Apenas sendo quem você é. Um maldito. É tão ruim assim? Afinal de contas, todo mundo parece tão vazio e distante. Menos nós. Nós somos os mártires, o estandarte da nobreza do espírito. E se nós fossemos os hipócritas?

Quanto tempo isso duraria? E se nós fôssemos desistentes, deprimidos, frustrados, sempre querendo algo que não temos e não precisamos, se nós amamos pouco, se descartamos os outros. Quem seriam os heróis? Pra onde foi todo mundo?

E se a vida não tivesse sentido algum, apenas existência pura e simples e ao acaso? Ou se o amor não fosse amor e só reações químicas que seu cérebro faz somente pra fazer você espalhar seus genes tão pateticamente como fazem as flores com o pólen? E se o tempo passasse tão rápido que você não vê os dias chegarem, e nós iremos morrer em breve e sem nenhuma vida após isso? Nenhum presente, nenhum céu. Preto. Puf. Você se pergunta. O que sobraria? Com ou sem sentido, as coisas continuam. Não depende de ninguém.

E se você quiser apenas ser quem você é, sem se importar com a opinião de ninguém para nada?
Quem você escolheria ser, o herói ou o vilão? Você se pergunta.

Tem dias que eu costumava ser um perfeito herói.
Hoje há dias que eu sou um anti-herói, outros que eu talvez seja um vilão.
Tem dias que ser legal que traz louros.
Tem dias que ser filho da puta também.
Ser um herói não deve ser tão bom, afinal de contas.
Afinal de contas, ser um vilão não deve ser tão ruim também.

sábado, 25 de agosto de 2012

coisas de que gosto

Sou uma daquelas pessoas que não são conhecidas pelas coisas que gosto e mais pelas coisas que não gosto. Vou tentar dizer algumas coisas de que gosto.

Quando me perguntam das coisas que gosto eu geralmente digo que gosto de café. Costumo tomar café diariamente desde os 12 anos, talvez eu seja um viciado.

Eu gosto de tempo frio, ou se tiver sol, que não esteja quente mas sim frio. Gosto de chuva, por vezes fina por vezes um temporal de uma vez só.

Eu gosto de observar, observar o mundo, as pessoas, os comportamentos, tudo. Gosto de analisar tudo e tirar conclusões para como eu devo lidar com as situações.

Gosto de olhares descontraídos. Me encanta quando nós fingimos que não estamos encarando elas e de repente ela está lá olhando pra nós e aí desvia o olhar morta de vergonha.

Gosto de sorrisos, bobos ou não, desde que sejam sinceros. Gosto do tipo de garotas que não hesitam em soltar uma risada escandalosa se preciso.

Gosto do flerte. Do "pré-beijo", ele costuma dizer muito sobre quem nós somos. Do primeiro "oi, tudo bom", do primeiro "está linda", do primeiro "eu te amo".

Não sou uma pessoa falsa-moralista. Gosto do corpo feminino. Seios, bumbum, genitália. Gosto de sexo também.

Ah, deixa eu ver... gosto de livros, gosto do cheirinho de papel de livro novo. Gosto de jogar jogos de ação, aventura, corrida, investigação e interação. Gosto de seriados, gosto de acessar as redes sociais.

Gosto de por o som do fone de ouvido no máximo e me desconectar um pouco do mundo. Gosto da tecnologia.

Gosto do passado, gosto do que faço, gosto do que sou e do que gostaria de ser também.

Gosto dos poucos amigos que me restam, e dos vários colegas que tenho.

Gosto de andar de mãos dadas, de beijar as costas da mão, de ser o romântico desajeitado que eu sou. Tento adequar o meu lado jovem, revolucionário e vanguardista com o meu lado convencional e tradicional.

Gosto de me deitar de conchinha com ela, de sussurrar em seu ouvido, de beijar sua testa.

Gosto das minhas manias, gosto de contar minhas histórias, gosto de guardar as pessoas dentro de mim.

Gosto de você também. Gosto dela, dele, deles. Cada qual com seu devido sentido, é claro.

Gosto do passado, gosto das lembranças, gosto da nostalgia, gosto de saber que um dia eu fui feliz e há registros disso.

Porque a vida é isso, é você tentando gostar e não gostar das coisas pra ter sua identidade própria e mostrar pra todo mundo que você existe e que não faz parte de uma multidão e sim, que a multidão faz parte de você.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O Sonho Impossível de Sônia

Sônia tinha um sonho.
O principal hobbie de Sônia era sonhar.
Sônia acreditava que podia colorir o mundo com seus lápis de cor.
Sônia gostava de brincar com as suas bonecas e imaginar um mundo onde tudo era possível, onde o mundo seria um lugar de paz, livre de preconceitos e pobreza.
E os sonhos da Sônia? ah, que maravilhas! Um mundo onde ninguém iria ter nenhum problema pra fazer novos relacionamentos, um mundo onde todos respeitariam o sinal de trânsito, um mundo onde ninguém teria de se preocupar com o peso de si mesmo.
Simples assim.
Nunca saberemos se ela realmente acreditava em seus sonhos ou se era uma válvula de escape para fugir do preto-e-branco da realidade.
Sônia não se importava, Sônia não desistia. Ela apontava os lápis, passava canetinha nas bordas e continuava a pintar mesmo assim.
No mundo de Sônia, o Sol tinha olhos e boca, e as nuvens também! No mundo de Sônia a Lua mais parecia um queijo parmesão e as chaminés das casas produziam mais nuvens.
No mundo dela, haviam bichos e monstros que a assustavam, mas logo logo o super pai ia lá quebrar a cara deles.
Ah Sônia...
Em seus desenhos ninguém chorava, era só alegria e festa. Ah Sônia...
Sônia nunca gostou da realidade.
Aos poucos a realidade foi machucando ela, ano após ano ela se tornou cada vez menos sonhadora e cada vez mais realista e astuta.
A realidade matou Sônia.
O mundo não estava pronto para ela a tempo, o mundo nunca a mereceu.
Sônia nunca se preparou pro mundo, Sônia sempre o quis colori-lo.
Sônia está morta. Ela, seus sonhos, seu mundo e seu desenho se desmoronaram.
Hoje, Sônia é só mais uma Sônia. Ela sempre será mais uma Sônia agora.
Mas a pergunta é: Quem matou a Sônia? Será que foi a realidade mesmo?
Não.
Nós matamos Sônia. Nós matamos a Sônia que tínhamos em cada um de nós.

Mas Sônia nunca se arrependeu de ter sido assim.

Era tão bom fazer de conta que tudo aquilo era verdade.
Sempre me apeguei ao passado. As vezes me dá uma certa vergonha ao saber que eu sei certas datas de fatos nada importantes. Como por exemplo o dia 26 de maio de 2004, o dia que descobri que gostava de uma menina da minha escola, ou o dia 26 de julho de 1999, quando eu saí do parquinho e fui fazer minha pré-escola em um colégio. Acho que todos nós temos esse tipo de cacoete engraçado com datas. Ou eu sou apenas um idiota que se recorda de coisas assim.

Na vida, é sempre mais fácil você colecionar objetos do que pessoas. Logicamente que comigo foi exatamente assim. Eu nunca fui adepto do ritual de queimar ou se livrar de livros e cadernos antigos de escola. Talvez eu seja um acumulador, talvez eu só tenha vontade de manter isso comigo.

Veja bem, houve tempos em que eu só tive apenas um amigo, eu disse um. Já quando eu era do ensino médio eu tinha alguns é verdade, mas a grande maioria deles foram amigos de um certo período da minha vida. Amigos que se perdem no tempo, digamos assim.

Eu sempre fui de valorizar minhas amizades, mas parece que isso não adiantou muito no entanto. Não que eu não tenha amigos hoje, mas eles são poucos e por vezes me deixam com uma impressão de que não posso contar com eles, o que é uma pena.

Dizem que o ser humano, é um ser que não sobrevive a não ser em bando. Talvez isso seja verdade, ou talvez não. Fato é, que eu não pude deixar de notar que a cada dia que passa eu me sinto cada vez mais sozinho. Eu mais costumo interagir comigo mesmo e quando tenho oportunidade vou interagir com outras pessoas. E isso não é exatamente um defeito, e sim a dificuldade que eu tenho de encontrar pessoas que se encaixem comigo, e quando isso acontece, não perdura por muito tempo.

E a cá estou com a minha rotina que tenho, interagir com as pessoas e me sentir sozinho. Receber abraços frios e voltar para casa na companhia da minha sombra. Sair com alguém e continuar se sentindo sozinho, como se você não estivesse lá, como se você quisesse estar em um outro lugar com alguém que realmente te entendesse. 

Ah, talvez este mundo esteja louco. Talvez nós não conseguimos parar de conhecer gente errada o tempo todo na esperança de deixar de se sentir assim. Talvez, na busca de novos ares, e no êxito de encontrar novas amizades, a consequência seja nos tornarmos cada vez mais nossos, sem qualquer tipo de interferência.

Muitas vezes nem prestamos atenção, mas será que aquele jovem que está rodeado de amigos está de fato acompanhado ou está tão sozinho quanto os outros?

Ia escrever sobre você de novo. Desisti.
Tenho perdido muito tempo com você.
Tenho perdido todo o meu tempo com você.
Me perdi em você. Perdi você. Agora me perco por você. Perco todo meu tempo com você.
As vezes perco meu tempo me perguntando se tudo isso é só perda de tempo.
Será que você perde seu tempo comigo?
Sinto falta do tempo que nada mais importava a não ser aquele momento.
Hoje, "aquele momento", me toma todo o meu tempo.
Não sei se me ama mais, mas eu gostaria de saber ainda que não tenha importância.
Assumo, eu perdi a batalha. Assumo, eu perdi a guerra. Assumo eu perdi...
...não só você mas também todo este tempo que dediquei lhe escrevendo isto.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Então a chuva ficou mais forte, rapidamente eu tento me proteger dela meio que em vão. Ah, droga. Entro no que parece ser uma cafeteria, ainda com o cabelo molhado tento ficar a par da situação. Naturalmente o dia de hoje não era um dia comum, o lugar parecia meio vazio, olhei para o lado e vi algumas mesas de madeira quadradas com duas cadeiras cada perto da janela. Escolhi a mais conveniente e pus me a sentar. 

Mal me sento e uma garçonete veio me abordar. Coitada, eu nem estava dando a mínima para ela. Escolhi qualquer coisa lá no cardápio desde que seja café, naturalmente. Ok, ela se foi, agora já posso ficar aqui com meus pensamentos novamente. Por um instante que para mim pareceu uma eternidade fiquei admirando a rua lá fora através da janela ao lado da mesa. Logo a garçonete voltou com o café que eu havia pedido, legal. Olhei a frente e vi uma cadeira vazia, ainda não estava acostumado com isso portanto me peguei pensando novamente em você. 

Mas pensar em você não vai me adiantar nada, porque nada importa nesse momento. Eu não posso pensar em você mas eu não consigo não desejar isso. A falta que você me faz é muito grande ainda. Desculpa, mas eu ainda vivo você. Tomei mais café, o gosto estava aceitável apenas. Olhei pra cima e vi uma pequena televisão ligada em algum telejornal, e novamente meu olhar se desviou pra rua lá fora: a chuva estava enfraquecendo. Quando me dei por si estava manuseando meu celular tentando descobrir como estava a sua vida, me recriminei por isso pela centésima vez e fui. 

Ok, você parecia tão feliz, mas infelizmente isso só me deixou mais angustiado ainda. Acho que você ainda sabe como eu sou, espero eu. Aos poucos foi aparecendo um Sol fraco, mas suficiente para iluminar a cafeteria. O café já estava acabando. Vi uma garota com fones de ouvido passando em frente a cafeteria e fiquei a admirando por um tempo. Até que a vi novamente atravessar a rua e pude jurar que era você, mesmo que não era. Quantas lembranças, conversas, momentos, agora todos em vão assim como nossas juras de amor e de nossos planos. Quanto mais eu tento te odiar por ser a causa do meu sofrimento, menos eu consigo e mais eu consigo te amar por conseguir ser tão perfeita comigo. 

Mas isso foi a muito tempo atrás, no entanto. Neste exato momento você não está pensando em mim, porque eu fui um erro na sua vida, porque você me odeia, porque você gostaria de nunca ter me conhecido. Neste exato momento você está com um outro que nunca irá sentir o que eu sinto por você, ah, disso eu posso dizer com certeza. Ainda que não valha de nada. 

Pedi a conta, queria sair dali. Você estragou mais um dia meu. Mais um dia perdido, sem você pra ficar de onde nunca deveria ter saído. Ali mesmo, abri minha carteira, entreguei o dinheiro do café e ainda vi um certo papel que decidi deixar mais escondido ainda na carteira. Eu não estou pronto de desistir de você, não sei quando estarei, se estarei e não me interessa nem um pouco estar pronto. Eu ainda preciso de você, mas como eu disse, nada mais importa agora. Eu perdi você.

Mas deixa essa baboseira de lado, me conte logo como foi seu dia, se saiu, se viu alguém, o que fez, se pensou em mim, se perde seu tempo ainda comigo. Será que um dia, existirá o dia em que você não passará pela minha mente? E, se ou quando este dia chegar, eu devo comemorar ou apenas constatar o fato que você é passado, que nunca mais ficaremos juntos?

Levantei dali, caminhei até a porta e comecei a andar de volta ao trabalho, com novamente você em meus pensamentos. Decidi não ver nossas fotos ou ler nossa história, decidi deixar você em um canto guardado tomando pó até o dia em que livrarei de você. Até lá você ainda me perturbará com uma frequência bem maior do que eu na sua cabeça, se é que você ainda pensa em mim. 

Decidi não arriscar, apressei o passo e cheguei logo no trabalho, sentei na minha cadeira no escritório e lá estava você de novo. De mansinho, mas tava. Pensei no trabalho, na garota que atravessou a rua de tarde, na maldita garçonete, até em você beijando outro homem. Mas quando me dei conta lá estava você sorrindo em meus pensamentos novamente. 

Não sei se consegui me expressar muito bem através deste texto, nem sei se devo publicar-lo, porque não importa mais o que eu sinto, tudo que pode ser feito é contemplarmos o trágico fim de nós. São duas da manhã e vou postar isso. Não me interessa saber o que pensa porque isso não é sobre você. Isso é sobre eu tentando pensar em outras coisas.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Saudade

Venha chuva
Leve contigo a minha saudade
E só retorne com o meu amor

Pois quando ela não está aqui
Parece que todos os dias são em preto em branco
São dias que eu tento fazer com que passem voando
Mas parece que eles não tem fim

Ei, venha cá chuva
Faremos um acordo
Lhe dou minha dor e você trague o meu amor
Mas trague, por favor...

E até lá, eu espero que nos dias, tardes, noites e madrugadas
Passem logo, até você chegar chuva
Até você vier aqui com o meu amor
Porque com ela, os dias são coloridos
São mágicos, perfeitos
E porque não chuvosos?

Espero que amanhã passe logo, dona chuva :~

sábado, 28 de janeiro de 2012

Máquina de Lembranças

Certo dia fui apresentado a tal da famosa “máquina do tempo”. Devo confessar que ser transportado a uma época diferente do meu tempo é uma idéia excitante e assustadora ao mesmo tempo. Eu, por mera curiosidade quis voltar no tempo e reviver alguns momentos meus. Mas não decidi mudar nada porque sabia dos riscos que isto ocorria. Enfim, entrei num compartimento um tanto quanto apertado com o coração muito acelerado. Mal sentia meus pés, e tava num misto de nervosismo e empolgação. Olhei ao meu redor e ainda vi a clínica. Pisquei. Olhei novamente, e ela ainda estava lá e quando pensei que algo estava saindo errado já não conseguia ver mais nada.

Não sei por que resolvi voltar ao longínquo ano de 1998. Mas tudo parece fácil quando se tem 5 anos não é? Bom, estava ao que me parecia dentro de um pátio de escola, mais precisamente no parquinho da onde estudei quando era pequeno. Colei meu rosto a uma pequena janela de onde podia ver a secretaria. Olhei ao calendário destacável e li: “Setembro 1998”. Meu coração saltou pela boca. Não só tinha medo de não sair mais do passado como de fazer alguma besteira que possa mudar meu futuro.

Decidi fazer a coisa mais sensata e estupidamente mais sem sentido possível: Procurar por mim mesmo. Com relativa facilidade conseguia percorrer pátio a pátio, corredor por corredor sem ser visto.

Estava parado no meio de um grande pátio com alguns bancos e pias pequenas pras crianças, antes de me deixar levar pela nostalgia do momento vi uma cena bizarra: Eu mesmo lavando as mãos na pia e já andando em direção a sala da “tia”. Simplesmente não consegui me conter e disse: “Gabriel?”. Minha voz tremeu bastante nessa hora, mas fui adiante: “Você é o Gabriel?”.

Aquele garotinho, embora novo já esperto, respondeu afirmamente com a cabeça meio sem reação. “Preciso falar com você meu jovem, Gabriel Lopes Guasti” disse eu. Acho que a coisa mais incrédula disso tudo é que eu não me lembrava de ter esta conversa comigo mesmo, bom, fui andando vagarosamente na direção de mim mesmo e me agachei ao lado do Gabriel.

Pela primeira vez em mais de trinta anos escutei a voz de quando tinha 5 anos, o jovem Gabriel perguntou “Q-quem é você?” e logo respondi sorrindo “Eu? Eu sou você meu caro”. O Gabriel me respondeu em seguida negando e falando que claro que ele não era eu. Nessa hora tudo que eu mais queria era abraçar a mim mesmo, ainda que não fosse possível pra tecnologia de 2034. Me levantei com os olhos marejados e puxei um lenço pra limpar meus óculos e disse em seguida: “Eu sou você no futuro, meu filho... venha, vamos dar uma volta”, disse olhando pro meu dispositivo eletrônico e congelando o tempo em volta de “nós”.

“Mas como assim eu sou você senhor?” disse meu jovem eu. “Senhor não, me chame de Gabriel por favor” disse sorrindo, “Bom, já ouviu falar em máquina do tempo Biel?” indaguei. “Sim, acho que sim” disse meu jovem eu com seus cabelos rebeldes quase encobrindo a vista já. “Então filho, eu voltei no tempo pra te visitar”. “E porque?”. “É que você, não sei se sabe, você é muito curioso e ligado ao passado, basicamente só vim dar um ‘oi’” disse eu para mim mesmo.

Percebi que minha versão de cinco anos de idade ficava me olhando a todo instante. Sendo estranhando minhas roupas e aparelhos eletrônicos fora de seu tempo, ou pra maneira que eu andava puxando de uma perna. “Eu vou ficar assim?” disse Gabriel. “Infelizmente, mas garanto pra você que sua vida será muito feliz ok garotão?” disse muito feliz. Nessa hora tentei tocar em mim mesmo quando criança e percebi que minha mão atravessava o corpo dele o que cortou meu coração claro.

Tinha que deixá-lo ali, para ele voltar a sala de aula, pra chegar em casa e brincar com seus carrinhos e viver sua vida de criança normalmente. Tinha que deixá-lo ali em seu tempo pois é lá que ele e cada um de nós pertencemos. Antes de ir pude jurar que ao tentar segurar sua pequena mão, percebi o calor de seu corpo e nisso me senti uma paz interna muito intensa.

Me despedi de mim mesmo e voltei ao presente sabendo que deixava ali um jovem de um futuro muito promissor e de uma simplicidade invejável, o que me orgulhou muito.