sábado, 28 de janeiro de 2012

Máquina de Lembranças

Certo dia fui apresentado a tal da famosa “máquina do tempo”. Devo confessar que ser transportado a uma época diferente do meu tempo é uma idéia excitante e assustadora ao mesmo tempo. Eu, por mera curiosidade quis voltar no tempo e reviver alguns momentos meus. Mas não decidi mudar nada porque sabia dos riscos que isto ocorria. Enfim, entrei num compartimento um tanto quanto apertado com o coração muito acelerado. Mal sentia meus pés, e tava num misto de nervosismo e empolgação. Olhei ao meu redor e ainda vi a clínica. Pisquei. Olhei novamente, e ela ainda estava lá e quando pensei que algo estava saindo errado já não conseguia ver mais nada.

Não sei por que resolvi voltar ao longínquo ano de 1998. Mas tudo parece fácil quando se tem 5 anos não é? Bom, estava ao que me parecia dentro de um pátio de escola, mais precisamente no parquinho da onde estudei quando era pequeno. Colei meu rosto a uma pequena janela de onde podia ver a secretaria. Olhei ao calendário destacável e li: “Setembro 1998”. Meu coração saltou pela boca. Não só tinha medo de não sair mais do passado como de fazer alguma besteira que possa mudar meu futuro.

Decidi fazer a coisa mais sensata e estupidamente mais sem sentido possível: Procurar por mim mesmo. Com relativa facilidade conseguia percorrer pátio a pátio, corredor por corredor sem ser visto.

Estava parado no meio de um grande pátio com alguns bancos e pias pequenas pras crianças, antes de me deixar levar pela nostalgia do momento vi uma cena bizarra: Eu mesmo lavando as mãos na pia e já andando em direção a sala da “tia”. Simplesmente não consegui me conter e disse: “Gabriel?”. Minha voz tremeu bastante nessa hora, mas fui adiante: “Você é o Gabriel?”.

Aquele garotinho, embora novo já esperto, respondeu afirmamente com a cabeça meio sem reação. “Preciso falar com você meu jovem, Gabriel Lopes Guasti” disse eu. Acho que a coisa mais incrédula disso tudo é que eu não me lembrava de ter esta conversa comigo mesmo, bom, fui andando vagarosamente na direção de mim mesmo e me agachei ao lado do Gabriel.

Pela primeira vez em mais de trinta anos escutei a voz de quando tinha 5 anos, o jovem Gabriel perguntou “Q-quem é você?” e logo respondi sorrindo “Eu? Eu sou você meu caro”. O Gabriel me respondeu em seguida negando e falando que claro que ele não era eu. Nessa hora tudo que eu mais queria era abraçar a mim mesmo, ainda que não fosse possível pra tecnologia de 2034. Me levantei com os olhos marejados e puxei um lenço pra limpar meus óculos e disse em seguida: “Eu sou você no futuro, meu filho... venha, vamos dar uma volta”, disse olhando pro meu dispositivo eletrônico e congelando o tempo em volta de “nós”.

“Mas como assim eu sou você senhor?” disse meu jovem eu. “Senhor não, me chame de Gabriel por favor” disse sorrindo, “Bom, já ouviu falar em máquina do tempo Biel?” indaguei. “Sim, acho que sim” disse meu jovem eu com seus cabelos rebeldes quase encobrindo a vista já. “Então filho, eu voltei no tempo pra te visitar”. “E porque?”. “É que você, não sei se sabe, você é muito curioso e ligado ao passado, basicamente só vim dar um ‘oi’” disse eu para mim mesmo.

Percebi que minha versão de cinco anos de idade ficava me olhando a todo instante. Sendo estranhando minhas roupas e aparelhos eletrônicos fora de seu tempo, ou pra maneira que eu andava puxando de uma perna. “Eu vou ficar assim?” disse Gabriel. “Infelizmente, mas garanto pra você que sua vida será muito feliz ok garotão?” disse muito feliz. Nessa hora tentei tocar em mim mesmo quando criança e percebi que minha mão atravessava o corpo dele o que cortou meu coração claro.

Tinha que deixá-lo ali, para ele voltar a sala de aula, pra chegar em casa e brincar com seus carrinhos e viver sua vida de criança normalmente. Tinha que deixá-lo ali em seu tempo pois é lá que ele e cada um de nós pertencemos. Antes de ir pude jurar que ao tentar segurar sua pequena mão, percebi o calor de seu corpo e nisso me senti uma paz interna muito intensa.

Me despedi de mim mesmo e voltei ao presente sabendo que deixava ali um jovem de um futuro muito promissor e de uma simplicidade invejável, o que me orgulhou muito.